Os representantes de Eike
Batista estão correndo os bancos na tentativa de renegociar as dívidas
de curto prazo do “império X”, que chegam a R$ 7,9 bilhões, conforme
levantamento feito pela Folha nos balanços das empresas do primeiro
trimestre.
Isso significa que OGX (petróleo), MMX
(minério), LLX (logística), OSX (estaleiro), MPX (energia) e CCX
(carvão) precisam pagar ou renegociar todo esse volume de dinheiro até
março de 2014. Pelo menos R$ 1,5 bilhão tinha que ter sido equacionado
até a sexta-feira passada.
As demais companhias não disseram em que
ponto está a renegociação das dívidas. Em comunicado ao mercado, o
grupo EBX informou que só tem dívidas de longo prazo, mas estava se
referindo apenas à holding. O nó está nas empresas, enquanto a holding
tem pouca dívida.
Os números ajudam a entender a aflição
dos investidores com as companhias de Eike, que sofrem uma crise de
confiança e vêm sendo castigadas na Bolsa. Nos últimos 12 meses, as
ações das empresas caíram entre 24,6% (MPX) e 85% (OSX).
Se for excluída a MPX, que depois da
venda de uma fatia para a alemã E.ON deixou de ter sua dívida
consolidada no grupo EBX, o endividamento de curto prazo das empresas
cai para R$ 5,6 bilhões.
CREDORES
Para os analistas, a tendência é os
bancos não serem tão duros nas negociações, porque têm muito a perder.
Os principais credores são Itaú BBA, Bradesco e BNDES, que emprestaram
pelo menos R$ 1 bilhão cada um para pagamento no curto prazo.
Em seguida, vem a Caixa, com R$ 750
milhões. As empresas de Eike têm dívidas de curto prazo com 11 bancos
diferentes. A distribuição por banco não inclui as dívidas da MMX, única
companhia aberta do grupo que não divulga essa informação.
O endividamento de curto prazo das
empresas do “império X” representa 33% das dívidas totais do grupo, que
chegam a R$ 23,7 bilhões. Cerca de R$ 9 bilhões dos empréstimos de longo
prazo foram feitos pelo BNDES.
Para Sérgio Lazzarini, professor do
Insper, o problema de Eike não é o tamanho da dívida, mas a incapacidade
das empresas de gerar caixa.
“São projetos de infraestrutura de longa
maturação, que exigem altos investimentos e não estão produzindo o que
se imaginava”, disse.
A crise de confiança do grupo começou há
um ano, quando um campo de petróleo da OGX frustrou significativamente
as expectativas de produção. A partir daí, os investidores começaram a
questionar a capacidade do empresário de “entregar”.
As dúvidas sobre a OGX contaminaram a
OSX, estaleiro criado para produzir as plataformas para a petroleira. Os
negócios de Eike são todos interligados, o que significa ganhos de
sinergia, mas também rápida deterioração em caso de crise.
QUEIMA DE CAIXA
Com exceção da MMX, todas as outras
empresas de Eike “queimaram caixa” no primeiro trimestre, o que
significa destruir riqueza. Isso em razão do alto endividamento e/ou
porque a operação ainda não consegue produzir o suficiente para fazer
frente aos compromissos.
A OGX e a OSX, as duas empresas em
situação mais delicada hoje, tiveram geração negativa de caixa de R$
1,07 bilhão e R$ 399 milhões, respectivamente. Por isso, não basta
apenas renegociar as dívidas. Eike também precisar cortar os
investimentos e vender ativos para injetar capital nas empresas.
VENDA DE ATIVOS
Com a ajuda do banco BTG, de André
Esteves, Eike já vendeu uma fatia da MPX para a E.ON, uma participação
num campo de petróleo da OGX para a Petronas e está em negociações com
Trafigura e Glencore para vender parte da MMX.
Também está em busca de investidores
para LLX e OSX, mas até agora as conversas não avançaram. Praticamente
todos os ativos do grupo estão à venda, inclusive o hotel Glória, no
Rio.
“É como uma pessoa física que estoura o
cheque especial e agora tem que vender o carro para cobrir o rombo. Ele
está vendendo pedaços das empresas”, diz Pedro Galdi, analista da SLW
Corretora.
A tendência é Eike manter uma fatia
minoritária nos negócios que criou, podendo até chegar a perder o
controle. O que ninguém sabe ainda é se isso será suficiente para salvar
o império daquele que já foi o sétimo homem mais rico do mundo.
Da Folha