No Ceará, mata-se mais que no conflito Israel/Egito

Sim, a violência está incorporada ao
nosso cotidiano. Como escrevi em texto anterior, se considerarmos
somente duas causas, 12 pessoas (em média) morreram no Ceará todos os
dias de 2012: 10 delas em função de homicídios dolosos e duas em função
de acidentes de motos. No total, 4.452 mortos em apenas um ano de nossa
guerra cotidiana. Em 2013, esses números são ainda maiores.
Imaginem leitores, se a causa de tanta
mortalidade fosse uma doença como a dengue ou a cólera. Haveria um
grande alvoroço para resolver o problema. Mundos e fundos seriam
mobilizados. Estranhamente, a violência não mobiliza nem fundos, nem
mundos.
12 mortos por dengue daria dias e dias
de manchetes. A mídia nacional seria atraída pelo tema. Muitas
reportagens. Vários especialistas a conceder suas opiniões. No entanto,
12 é usualmente a quantidade de pessoas assassinadas a cada fim de
semana somente em Fortaleza.
A nossa guerra particular não merece nem
coletiva de secretário da Segurança. Seus superiores também optaram
pelo silêncio. Ampliando para o Brasil, recorro novamente ao sociólogo
Júlio Jacobo: em 30 anos, entre 1980 e 2010, o nosso País ultrapassou a
incrível e impressionante marca de 1 milhão de vítimas de homicídios.
Atentem para esse dado contido no Mapa da Violência 2010: a média anual de mortes por homicídio no País supera
o número de vítimas de enfrentamentos armados no mundo. Entre 2004 e
2007, 169,5 mil pessoas mor-reram nos 12 maiores conflitos mundiais. No
Brasil, o número de mortes por homicídio nesse mesmo período foi 192,8
mil.
Voltando ao Ceará: 3.565 homicídios
dolosos em 2012. Comparemos com algumas guerras. A guerra civil da
Nicarágua durou sete anos (1972-79). Ao todo, morreram 30 mil pessoas.
Ou seja, 4.286 mortos por ano. A guerra Israel/Egito (1967-1970) tirou a
vida de 6.400 pessoas. Uma média de 2.133 mortos por ano. Menos da
metade dos assassinados no Ceará em 2012.
A Guerra das Malvinas, entre Inglaterra
de Argentina, durou um ano e tirou a vida de 2 mil pessoas, quase todas
soldados. É quase a metade da guerra cearense de cada ano. A terrível
guerra civil do Camboja, que durou 18 anos (1979-97), matou 1.338
pessoas por ano. Quase três vezes menos que o Ceará de 2012. Basta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
NÃO ACEITAMOS COMENTARIOS ANONIMOS