segunda-feira, 29 de abril de 2013

No Ceará, mata-se mais que no conflito Israel/Egito

Blog do Xerife
Em textos anteriores, tratei o problema da violência no Brasil e, particularmente, no Ceará, como sendo uma epidemia. Errado. Como bem disse o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, responsável pelo Mapa da Violência, o Brasil vive hoje uma situação que se enquadra no conceito de “pandemia”. “A epidemia é um surto eventual, a pandemia é um problema estrutural e mais difícil de cuidar. A violência entre nós está incorporada”.


Sim, a violência está incorporada ao nosso cotidiano. Como escrevi em texto anterior, se considerarmos somente duas causas, 12 pessoas (em média) morreram no Ceará todos os dias de 2012: 10 delas em função de homicídios dolosos e duas em função de acidentes de motos. No total, 4.452 mortos em apenas um ano de nossa guerra cotidiana. Em 2013, esses números são ainda maiores.
 
Imaginem leitores, se a causa de tanta mortalidade fosse uma doença como a dengue ou a cólera. Haveria um grande alvoroço para resolver o problema. Mundos e fundos seriam mobilizados. Estranhamente, a violência não mobiliza nem fundos, nem mundos.
 
12 mortos por dengue daria dias e dias de manchetes. A mídia nacional seria atraída pelo tema. Muitas reportagens. Vários especialistas a conceder suas opiniões. No entanto, 12 é usualmente a quantidade de pessoas assassinadas a cada fim de semana somente em Fortaleza.
 
A nossa guerra particular não merece nem coletiva de secretário da Segurança. Seus superiores também optaram pelo silêncio. Ampliando para o Brasil, recorro novamente ao sociólogo Júlio Jacobo: em 30 anos, entre 1980 e 2010, o nosso País ultrapassou a incrível e impressionante marca de 1 milhão de vítimas de homicídios.
 
Atentem para esse dado contido no Mapa da Violência 2010: a média anual de mortes por homicídio no País supera o número de vítimas de enfrentamentos armados no mundo. Entre 2004 e 2007, 169,5 mil pessoas mor-reram nos 12 maiores conflitos mundiais. No Brasil, o número de mortes por homicídio nesse mesmo período foi 192,8 mil.
 
Voltando ao Ceará: 3.565 homicídios dolosos em 2012. Comparemos com algumas guerras. A guerra civil da Nicarágua durou sete anos (1972-79). Ao todo, morreram 30 mil pessoas. Ou seja, 4.286 mortos por ano. A guerra Israel/Egito (1967-1970) tirou a vida de 6.400 pessoas. Uma média de 2.133 mortos por ano. Menos da metade dos assassinados no Ceará em 2012.
 
A Guerra das Malvinas, entre Inglaterra de Argentina, durou um ano e tirou a vida de 2 mil pessoas, quase todas soldados. É quase a metade da guerra cearense de cada ano. A terrível guerra civil do Camboja, que durou 18 anos (1979-97), matou 1.338 pessoas por ano. Quase três vezes menos que o Ceará de 2012. Basta.

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